Nem todo homem, mas sempre um homem? repensando o lugar da mulher na reprodução dos discursos sobre o corpo feminino

Autores

Resumo

Este artigo visa problematizar os discursos que circundam o corpo feminino na sociedade. Diante da recente midiatização de um estupro médico durante a realização de uma cirurgia obstétrica, foi publicado um texto no afã de se contestar o ato e combater o controle exercido pelos homens sob a trajetória de vida da mulher. Discursivamente, as mulheres foram moldadas a partir de reflexões e julgamentos atribuídos aos homens. Contudo, acredita-se que o controle sobre os corpos femininos, que tem contribuído para a manutenção da condição de submissão, historicamente reservada às mulheres, não é um exercício restrito a eles. A reprodução da ideologia dominante é prejudicial às mulheres e colabora diretamente com a manutenção desse status quo. Identificar as razões da reprodução irrefletida desse discurso pelas mulheres, que se somam às vozes masculinas nesse cerco, é o que se deseja. Pretende-se, com essa discussão, questionar esse controle restritivo ao tratar de temas relativos ao corpo da mulher ao longo da história. A partir dessa abordagem, busca-se refletir o legado desse processo na sociedade contemporânea.

Palavras-chave: autonomia; corpo; discurso; mulher.

Abstract

This paper aims to examine the discourses that shape the female body in society. In response to recent media coverage of a medical rape during an obstetric surgery, a text was published to contest the act and fight against men's control over a woman's life trajectory. Women’s discourse surrounding this subject has been shaped by reflections and judgments attributed to men. This study acknowledges that the control over female bodies, which has historically contributed to the subjugation of women, is not solely exercised by men. The reproduction of dominant ideology is harmful to women and directly contributes to the perpetuation of this status. This paper aims to examine why women uncritically adopt the male discourse on issues related to the female body, questioning the restrictive control it imposes when dealing with issues related to the woman's body throughout history. Through this approach, we aim to reflect on the legacy of this process in contemporary society.

Keywords: autonomy; body; speech; women.

Resumen

Este artículo tiene como objetivo problematizar los discursos que rodean el cuerpo femenino en la sociedad. Ante la reciente cobertura mediática de una violación médica durante una cirugía obstétrica, se publicó un texto que busca cuestionar el acto y combatir el control que ejercen los hombres sobre la trayectoria de vida de una mujer. Discursivamente, las mujeres fueron moldeadas a partir de reflexiones y juicios atribuidos a los hombres. Sin embargo, se cree que el control sobre los cuerpos femeninos, que ha contribuido a mantener la condición de sumisión, históricamente reservada a las mujeres, no es un ejercicio restringido a ellos. La reproducción de la ideología dominante es perjudicial para las mujeres y colabora directamente con el mantenimiento de ese statu quo. Identificar las razones de la reproducción irreflexiva de ese discurso por parte de las mujeres que se suman a las voces masculinas en ese cerco es lo que se desea. Se pretende, con esa discusión, cuestionar ese control restrictivo al tratar temas relacionados con el cuerpo de la mujer a lo largo de la historia. Desde ese enfoque, buscamos reflejar el legado de ese proceso en la sociedad contemporánea.

Palabras clave: autonomía; cuerpo; discurso; mujer.

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Biografia do Autor

Larissa Landim de Carvalho, Universidade Federal de Goiás

Advogada. Linguista. Doutoranda em Letras e Linguística pela Universidade Federal de Goiás. Mestra em Educação, Linguagem e Tecnologias pela Universidade Estadual de Goiás. Pesquisadora das áreas de Direitos Reprodutivos, Feminismo e Trajetórias Textuais. Lattes: http://lattes.cnpq.br/7075905203814658. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0076-0790.

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2024-03-13

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